Segurança Alimentar

A qualidade e a quantidade daquilo que ingerimos manifestam-se na nossa saúde e bem-estar. Contudo, quando falamos em alimentos, não devemos esquecer também de garantir outro aspeto importante: a segurança associada ao seu consumo. Existem cuidados básicos que devemos ter na preparação, conservação e armazenamento de produtos alimentares para garantir que se encontram em bom estado no momento de consumo. O não cumprimento destes cuidados pode levar a:

  • Deterioração do alimento, com alteração das suas características organolépticas (cor, sabor, odor, textura), deixando de ser desejado para consumo, ou podendo mesmo ser inadequado para esse fim.
  • Desenvolvimento de bactérias, fungos e outros microrganismos nos alimentos, capazes de causar doença quando ingeridos.

No que toca à conservação e ao armazenamento dos produtos alimentares, os cuidados vêm normalmente indicados nos seus rótulos. Apenas em produtos frescos, sem embalagem, esses cuidados podem não ser tão claros.

  • A fruta pode ser conservada à temperatura ambiente. Apenas sobras de fruta (por exemplo, ½ peça de fruta ou as frutas às fatias) devem ser colocadas no frigorífico para que não deteriorem. Também a fruta madura que não será consumida dentro de pouco tempo deve ser transferida para o frigorífico, de modo a não apodrecer. No frigorífico, a fruta deve ser conservada a 8ªC-10ºC, nas gavetas próprias para o efeito.
  • Os hortícolas podem ser conservados à temperatura ambiente ou no frigorífico. Em épocas mais quentes, como no Verão, em que ambiente se torna mais quente, aconselha-se a sua conservação no frigorífico, atrasando a deterioração. Devem situar-se também nas gavetas próprias para estes no frigorífico, a 8ºC-10ºC. Apenas cebolas, alhos e batatas podem permanecer no exterior sem se “estragarem”; as batatas devem ser protegidas da luz, inibindo a formação de solanina, com efeitos tóxicos para o organismo.
  • O leite deve ser conservado num ambiente protegido da luz e do calor, mas não necessariamente o frigorífico, a não ser depois de aberta a embalagem. Iogurtes, queijos, manteigas e cremes vegetais devem ser sempre armazenados e conservados no frigorífico. O leite, a manteiga e os cremes vegetais devem localizar-se na porta do mesmo, onde a temperatura de refrigeração é menor (10ºC-15ºC), ao passo que os iogurtes, os queijos e as natas devem situar-se na prateleira mais próxima do congelador, onde o ar é mais frio (2ºC-3ºC).
  • Os ovos podem ser refrigerados. Caso opte por fazê-lo, pode colocá-los na porta do frigorífico, onde a temperatura é menor. Já a carne e o peixe devem ser congelados. Quando estiverem em fase de descongelação, a carne e o peixe devem ser transferidos para a prateleira intermédia do frigorífico, que é também o local de armazenamento adequado dos produtos de charcutaria e produtos de conserva já abertos (3ºC-5ºC). Estes últimos, antes de serem abertos, podem ser conservados no exterior, mas num ambiente protegido da luz e do calor.
  • Refeições pré-feitas congeladas, à semelhança de fruta e vegetais congelados, devem manter o mesmo armazenamento anterior à sua aquisição.
  • Sobras de refeições devem ser conservadas no frigorífico, não mais do que 3 dias, e não devem ser reaquecidas a não ser no momento de consumo. Devem situar-se também na zona mais fria, na prateleira mais perto do congelador (2ºC-3ºC).

Na altura da preparação das refeições, devem igualmente ser tidos alguns cuidados.

  • Antes de manusear qualquer alimento, lave bem as mãos e garanta que as superfícies e utensílios que irá utilizar se encontram limpos e secos. Para evitar contaminações cruzadas, utilize diferentes utensílios e superfícies para diferentes tipos de alimentos (por exemplo, entre carnes cruas e vegetais com casca) ou para alimentos em diferentes estados de preparação (por exemplo, entre crus e confecionados).
  • Os alimentos congelados devem ser descongelados gradualmente, passando primeiro para o frigorífico e só depois para o exterior. Pode também descongelá-los em água fria corrente, nunca os retirando da embalagem onde se encontram acondicionados de modo a evitar o contacto direto com a água. Outra opção é descongelar os seus alimentos no microondas.
  • A fruta e os hortícolas devem ser bem lavados em água corrente. Uns devem ser descascados em seguida, ao passo que outros podem ser consumidos com casca; especialmente nestes casos, uma lavagem adequada é de extrema importância (em água com vinagre, sumo de limão ou com o auxílio de desinfetantes alimentares).
  • Os produtos de conserva devem ser escorridos, de modo a retirar o líquido rico em sal e conservantes e, se possível, passados por água corrente.

Após a confeção dos alimentos e da elaboração das refeições, as sobras devem ser transferidas para um recipiente e armazenadas no frigorífico; contudo, deve primeiro deixar arrefecer à temperatura ambiente antes de fechar o recipiente, pois a humidade e a formação de água dentro do mesmo podem favorecer o desenvolvimento dos referidos microrganismos patogénicos. Além disso, colocar os alimentos ainda quentes a refrigerar irá aumentar a temperatura interna do frigorífico e alterar a correta conservação dos restantes produtos no seu interior.

Os alimentos, quando passam para o frigorífico, devem ser colocados em recipientes bem fechados e, de preferência, transparentes. Embalagens transparentes, ao mostrarem o seu conteúdo, relembram-nos dos alimentos e sobras a consumir e evitam, deste modo, o desperdício e a deterioração alimentares. Mesmo no caso de conservas abertas, nunca guarde as sobras no recipiente de origem, devido à possível oxidação do mesmo e passagem dos componentes oxidados da lata para os alimentos; transfira as sobras para outro recipiente e feche bem. No caso de sobras de frutas e hortícolas, pode também envolvê-los com película aderente, evitando assim a exposição de qualquer alimento refrigerado ao ar.

 O frigorífico deve ser limpo regularmente, no mínimo uma vez por mês, de modo a evitar a formação de odores e a proliferação de bactérias e outros microrganismos indesejados. Esta limpeza permite também ter uma melhor noção dos alimentos que tem, evitando que estes se acumulem e se estraguem. Os alimentos com menor intervalo de validade devem ser colocados à frente de modo a serem consumidos primeiro. No dia-a-dia, deve evitar deixar a porta aberta muito tempo, bem como abrir e fechar a porta várias vezes num curto período de tempo, uma vez que isso provoca um aumento da temperatura interna do frigorífico.

Para além de todos estes cuidados “caseiros”, há também alguns a ter no momento da aquisição:

  • Verifique a data de validade dos produtos alimentares.
  • Verifique se a carne apresenta um tom vermelho-vivo, sem manchas e sem um aspeto seco, bem como um cheiro adequado, indicando assim que se encontra em bom estado.
  • Verifique se o peixe apresenta a pele brilhante com escamas bem agarradas ao corpo, as guelras num tom vermelho-vivo, os olhos brilhantes e com a córnea transparente, e um cheiro adequado; estas características indicam um peixe fresco e em bom estado.
  • Certifique-se que os ovos se encontram todos inteiros e em bom estado, com casca limpa e intacta e sem a presença de odores estranhos.
  • Verifique se a fruta não se encontra demasiado madura ou amolecida; é preferível comprá-la um pouco mais verde e deixar amadurecer em casa. Escolha peças de fruta com um aspeto fresco, e de cor forte e não baça.
  • Prefira os hortícolas folhosos com um aspeto fresco e viçoso, de cor forte e não baça; para os hortícolas com polpa, deve optar pelos que não tenham um aspeto amassado nem estejam demasiado maduros.
  • Adquira apenas batatas que não estejam a brotar, uma vez que estas apresentam maior quantidade de solanina, com efeitos tóxicos para o organismo.
  • Nos laticínios, produtos de conserva e restante produtos embalados, deve escolher embalagens fechadas, corretamente seladas e que não estejam amolgadas ou inchadas. Embalagens amolgadas devem ser sempre evitadas. Especialmente nos produtos de conserva à base de carne, é de extrema importância que a embalagem não se encontre inchada, uma vez que isso pode indicar a presença de uma bactéria patogénica, o clostridium botulinum.
  • Verifique se os produtos congelados não apresentam sinais de descongelação, como cristais de gelo ou água dentro da embalagem.

 

Joana Ferreira

Nutricionista Estagiária à Ordem dos Nutricionistas