O conceito de Dieta Mediterrânica e a pirâmide alimentar mediterrânica

Conceito da dieta mediterrânica

O conceito da dieta mediterrânica foi elaborado por Ancel Keys que em 1986, publicou o resultado da sua investigação no “Seven Countries Study”. Demonstrou que havia uma estrita relação entre o consumo de gorduras e a incidência da doença coronária que era tanto mais frequente quanto mais elevado fosse o consumo de gordura. A excepção verificou-se apenas nos povos da bacia do Mediterrâneo, que apesar de terem um elevado consumo de gordura sofriam de relativamente poucos enfartes do miocárdio. Esta excepção, segundo Keys, devia-se ao tipo de gordura consumida que no Mediterrâneo era sobretudo gordura insaturada (azeite).

Tal noção foi aprofundada e estudado o tipo de gordura na dieta. Além da relação entre gorduras saturadas e insaturadas, verificou-se que certas gorduras poli -insaturadas não são sintetizadas pelo organismo humano apesar de serem essenciais para a saúde; pertencem a duas grandes famílias: os ácidos gordos ómega 3 e os ácidos gordos ómega 6. Os ómega 3 são abundantes nos peixes gordos, nas sementes e nos frutos secos; encontram-se os ómega 6 na gordura animal e nos óleos vegetais. Desde a sua origem, a dieta mediterrânica devido à sua riqueza em peixes, sementes e frutos secos tem um aporte equilibrado em ómega 3 e ómega 6, o que é benéfico para a saúde.

A pirâmide alimentar mediterrânica

O conceito de Ancel Keys foi aprofundado e alargado. Além da composição do cabaz de alimentos, é importante a frequência da sua ingestão. Foi assim que nasce a pirâmide dos alimentos que relaciona estes dois aspectos (fig. 1).

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Mais tarde, na base da pirâmide foi colocado o exercício e a necessidade da sua prática diária. Uma padrão alimentar – uma dieta – tinha evoluído para um estilo de vida que o integrava, mas que era muito mais do que isso. Era a “diaita” ou estilo de vida, classificado pela Unesco, Património Imaterial da Humanidade.

Os aspectos culturais, tais como feiras, romarias, festivais, foram também valorizados e integrados no conjunto bio psico-social que caracteriza o estilo de vida mediterrânico. Além disso, as refeições são tomadas com tempo para saborear os alimentos, a bebida e a companhia, ao contrário das refeições de tipo “fast-food”.

A primeira grande diferença entre a dieta mediterrânica e outros padrões alimentares é a ingestão quotidiana de verduras, legumes e frutos (frescos e secos), o que lhe dá um grande aporte de fibra.

A segunda grande diferença é a utilização do azeite como principal gordura alimentar. A terceira diferença é o baixo consumo de carne vermelha e a preferência dada ao peixe, sobretudo peixe gordo como sardinha, cavala, carapau etc…, e às carnes brancas.

O vinho, sobretudo tinto, é bebido às refeições com moderação, a água com abundância.

 

Prof. Doutor Jacinto Gonçalves

Vice-Presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia