Maio de 2018, Mês do Coração

Publicado a 30 de abril de 2018 

Maio de 2018, Mês do Coração

 

A importância das doenças cardiovasculares é enorme, se tivermos em conta, que em Portugal, só no último ano, de um total de cerca de 105.000 óbitos, ocorreram cerca de 35000 mortes devido a doenças cardiovasculares. A tendência dos últimos anos mostra uma ligeira redução da mortalidade devida a acidentes vasculares cerebrais e enfartes do miocárdio. Pelo contrário, está a ocorrer um aumento dos casos de insuficiência cardíaca e de fibrilhação auricular. No seu conjunto, as doenças cardiovasculares são as principais patologias, sendo responsáveis por mais de um terço de toda a mortalidade da população portuguesa.

Este ano, a Fundação dedica o Mês de Maio ao Colesterol, tendo em atenção que cerca de dois terços da população adulta portuguesa têm o colesterol elevado. No entanto, este não causa sintomas. Estes quando ocorrem, podem manifestar-se, por exemplo, sob a forma de dor no peito devido a angina de peito ou enfarte do miocárdio. Estamos, pois, perante uma patologia grave em que é fundamental fazer prevenção.

 O colesterol é uma gordura essencial existente no organismo que tem duas origens. Uma parte é produzida pelo próprio organismo, em particular pelo fígado, e outra parte, é obtida através da alimentação, sobretudo pela ingestão de produtos animais, ricos em gordura, como a carne vermelha, os ovos e os produtos lácteos.

O organismo necessita de colesterol para produzir as membranas (paredes) celulares, hormonas, vitamina D e até os ácidos biliares, que ajudam a digerir os alimentos. No entanto, o organismo só necessita de uma pequena quantidade de colesterol para satisfazer as suas necessidades.

Quando o colesterol está em excesso, deposita-se nas paredes arteriais, constituindo placas de aterosclerose (acumulações de colesterol) que reduzem o calibre dos vasos, dificultando o afluxo de sangue aos órgãos e tecidos do organismo. Estas placas podem formar-se em todas as artérias. Se ocorrem nas artérias carótidas do pescoço estamos perante a doença carotídea que pode provocar acidentes vasculares cerebrais. Quando se formam nas artérias coronárias – que fornecem o sangue ao coração – temos a doença das coronárias. Se o sangue oxigenado não chegar em quantidade suficiente ao músculo cardíaco pode ocorrer uma dor no peito – a chamada angina. Se a obstrução da artéria coronária for completa pode desencadear-se um enfarte do miocárdio.

A Organização Mundial de Saúde estima que mais de 50% dos enfartes do miocárdio e cerca de 20% dos AVCs são devidos ao colesterol elevado.

Há ainda evidência científica que demonstra que o colesterol elevado é um factor de risco significativo para outras doenças, incluindo a doença vascular periférica dos membros inferiores, que pode levar a gangrena, e a algumas formas de demência.

Sabe-se que o consumo excessivo de gordura saturada eleva os níveis de colesterol. Para os reduzir, deve evitar-se o consumo excessivo de gorduras de origem animal como as carnes vermelhas, as carnes processadas (salsichas, bacon, presunto, fiambre, chouriço), o leite gordo, a banha, a manteiga, o queijo carnes gordas, o presunto, o leite e queijo, a fast food, etc.

Por outro lado, praticar regularmente actividade física reduz o colesterol das LDL e aumenta o colesterol das HDL, para além de ajudar a controlar o peso, a diabetes e a pressão arterial, factores de risco importantes de doença cardiovascular.

 As Sociedades Científicas nacionais e europeias recomendam como valores normais um colesterol inferior a 190 mg/dl, quando se trata da população saudável. No caso dos doentes com patologia coronária ou outra doença aterosclerótica (acidente vascular cerebral, doença vascular periférica, etc.), diabetes ou insuficiência renal recomendam-se valores de colesterol inferiores a 175 mg/dl. Já para a fracção do colesterol das LDL (o chamado colesterol mau), os valores recomendados são respectivamente inferiores a 115 mg/dl para a população em geral e a 100 mg/dl nos doentes de alto risco. Alguns estudos mostram que nos doentes de alto risco, como é o caso dos doentes coronários, há vantagem em atingir níveis de LDL inferiores a 70 mg/dl para assegurar maior protecção cardiovascular e até tornar possível ocorrer alguma regressão das placas de aterosclerose.

À luz dos conhecimentos científicos atuais deve ser cada vez mais fácil persuadir o Governo e a comunidade em geral para a importância da prevenção cardiovascular. Gastar dinheiro em prevenção deve ser cada vez mais percebido não como uma despesa mas antes como um investimento altamente rentável.

Sem dúvida que a prevenção é um dos caminhos pelo qual o SNS deverá enveredar, não só para evitar o sofrimento humano causado pela doença, como para reduzir os custos crescentes das novas tecnologias que desequilibram o orçamento da saúde.

No momento, em que o nosso Serviço Nacional de Saúde enfrenta grandes dificuldades de financiamento, não podemos deixar de lembrar que é indispensável dar toda a ênfase aos cuidados preventivos, baseados nomeadamente na área da medicina familiar, que deverá constituir a parte nuclear do nosso Sistema de Saúde. De outro modo, o sistema inclinar-se-á cada vez mais para os cuidados secundários, com o uso e até o risco de abuso das novas e dispendiosas, embora indispensáveis tecnologias, que podem, numa época de profunda crise económica, conduzir a uma política indesejável de contenção e até racionamento de custos.

Segundo a OMS cada indivíduo deve participar nas decisões que lhe dizem respeito, tornando-se deste modo responsável pela sua própria saúde. Face à situação atual, a FPC apela a que todos coloquem a sua saúde, nas prioridades da sua vida pessoal, adotando estilos de vida saudáveis. Só deste modo será possível alcançar o importante objetivo de melhorar a saúde e qualidade de vida dos nossos concidadãos.

Este Mês de Maio a Fundação Portuguesa de Cardiologia recomenda a todos os cidadãos que adotem um estilo de vida saudável, meçam periodicamente o seu colesterol e respeitem a medicação que o seu médico assistente lhes prescrever. Quando se está a tomar um medicamento, não se deve parar ou alterar a dose sem falar previamente com o seu médico.

 

Prof. Doutor Manuel Carrageta

Presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia